segunda-feira, fevereiro 23

QUE ENERGIA

Nossa, agora eu concordo com tudo que eu já ouvi sobre carnaval na pele.
É uma coisa indescritível, a sensação eufórica de fazer parte, você mesmo, fazer parte de uma coisa tão grandiosa, tão linda e tão forte como é, inegavelmente, o samba.
Independente da escola (eu acho, porque ainda não testei mais de uma e nem sei se vou ter coragem-já explico), talvez seja simplesmente a magia de um grupo de tambore, timbais e todo aquele poder sonoro que eu não sei dar nome ainda, tocando junto, tocando por amor, tocando pra fazer todo mundo mais feliz sem motivo pelo menos por um, dois ou tres dias a cada 365 mais ou menos, acho que isso é mais do que suficiente pra justificar a indescritibilidade (inventei?) do sentimento que toma posse da gente entre as faixas amarelas que marcam o começo e fim do Anhembi.
Realmente, não é pra entender o samba. É só pra senti-lo.
E a coisa de não deixar, eu não sei explicar também, mas é mais ou menos assim. Você "entra" pela primeira vez numa escola super tradicional que foi pro grupo de acesso mas que tem amor, que é uma família, que tá lutando com certeza de que vai vencer. E aí você faz parte dessa maravilha que batizaram CARNAVAL. Você entra lá, canta até ficar rouco, pula e samba até suar, não se cansa não quer acabar até que a noite vire dia, até que a grama vire lama, não quer deixar essa sensação deliciosa ir embora, porque é muito bom. E aí você torce mesmo para que o sutil milagre do qual você foi integrante consiga ser mais impactante do que alguns outros. MEU DEUS, E SE CONSEGUE! Eu não sou capaz ainda de mentalizar a felicidade que vem nessa hora. Não sou mesmo,
mas eu imagino pelo que eu já vi que faça valer cada hora fazendo fantasias, cada gota de suor dos quinhentos mil ensaios no barracão, cada minuto de concentração, cada detalhe na organização e com certeza, cada decibél que fez tremer o chão do Anhembi, ou da Sapucaí, ou de qualquer santuário onde toquem esse milagre que indiscutilvelmente É o samba. Tudo vale a pena. O que não quer dizer que você tem que ter participado de tudo para sentir esse orgulho vindo de recompensa. mesmo que não ganhe, ter um 'lugar' que é o que você mereceu pelo seu esforço que fez parte do esforço de uma escola, que fez parte do corpo que é esse teatro ambulante apresentado todo mês de fevereiro, já é uma ocasião capaz de despertar uma identificação entre as pessoas de tal modo que ao entrar na avenida você sente mesmo o esforço de tanta gente que trabalha e vive em nome disso, e que vida maravilhosa, que legado bonito para a humanidade!
Então eu não sei mesmo se será possível entrar em outra escola sem se sentir um traidor. A conexão de que esse ritmo é capaz me impressiona.
É que quando eu tava no ônibus, pra sair da quadra e ir pra hora, apareceu acho que um anjo. O nome dele é Chique-Chique, e ele ajudou a fundar a Mancha e fundou a Águia. Simplesmente um gênio do samba, e só hoje então eu me dei conta de que eu poderia ouvir aquela fortaleza disfarçada de senhorzinho fofo falar a noite, o dia, a vida inteira. Porque eu não consigo imaginar um jeito de não amar essa cultura que aflora de quem vive em nome da alegria do Carnaval. Pode parecer exagero, mas acho que eu descobri mais uma paixão que vale a pena, e muito. Ah e tem tantas particularidades pra falar, mas eu vou assistir o desfile do rio. É que acho que tudo que acontece naquela uma hora mágica (não encontro definição melhor dentro do meu vocabulário limitado) fica registrado na gente de um jeito tão especial, que se torna grande, do tamanho da festa, do tamanho da energia, do tamanho do samba, que é um tamanho que não tem tamanho.

Moral da história:
Não passo mais um Carnaval sequer em casa, mas neeem que me acorrentem!

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