quarta-feira, fevereiro 25

Frankenstein - Mary Shelley

"Para mim, o mundo era um segredo que eu procurava desvendar."

"Venha, Victor, não com pensamentos de vingança contra o assassino, mas com sentimentos que ajudem a curar e não arruinar as nossas chagas. Volte(...), trazendo em seu coração afeto para com os que o amam, e não ódio contra os inimigos."

"Viva, seja feliz e torne os outros felizes."

"Onde o falso tanto se pode assemelhar ao verdadeiro, que segurança de felicidade pode haver nesse mundo?"

"Dormimos. Eis que um sonho nos envenena o sono.
Despertamos. Um pensamento errante contamina o dia,
Sentimos, imaginamos, refletimos, rimos, choramos,
Abraçamo-nos à dor, ou libertamo-nos das penas,
Vário é o caminho, mas para a alegria ou a tristeza,
É sempre franco,
O amanhã jamais igualará o ontem;
Nada, exceto o mutável, pode perdurar!"

"Isso me entristeceu e sentei-me a observar aquela coisa curiosa, que se movia sem interrupção, ora encolhendo-se, ora alongando-se, aquela coisa que expelia luz e calor, que fazia bem e aquecia, mas fazia mal e feria se tocada com as mãos."

"Nesse retiro, deitei-me feliz, mais por me sentir protegido contra a barbaridade humana do que contra a inclemência do tempo."

"O ser humano era, a um só tempo, poderoso, virtuoso e magnificente, tanto quanto vil e cheio de vícios. Tão depressa personificava tudo quanto se possa conceber de nobre e divino, quanto se transmudava na própria essência do mal. A imagem do grande homem, bom e virtuoso, parecia constituir a honra máxima para os seres bem-dotados de espírito, ao passo que o vício e a maldade, que caracterizavam muitas figuras históricas, eram objeto de abominação e repulsa. Punha-me então a conjecturar sobre os motivos que poderiam levar um homem a abandonar sua casa e sua família, para ir matar seu semelhante, e sobre a razão de ser das leis e governos. Mas a admiração que o melhor aspecto do ser humano me influia deu lugar ao desgosto e à aversão quando ouvi o relato de seus vícios e atrocidades."

"Aprendi, Frankenstein, que os bens mais almejados pelos seus semelhantes eram a alta posição, a reputação e as riquezas. Uma só dessas vantagens bastaria para outorgar respeito a um homem, mas a falta de pelo menos uma delas era o suficiente para que fosse considerado relegado à condição de pária ou escravo, condenado a despender todas as suas forças para o luco de poucos eleitos."

"Quem era eu? O que era eu? A pergunta voltava constantemente ao meu espírito, sempre sem resposta."

"Entre as miríades de homens que existiam, não havia um só que se condoesse de mim e me trouxesse alívio. Onde estavam a bondade e a generosidade humanas?"

"Um tanto surpreso pela novidade dessas sensações, deixei-me arrastar por seu efeito e, esquecendo minha solidão e deformidade, tive a ousadia de pretender ser feliz. As lágrimas que me orvalharam as faces eram de doçura e cheguei mesmo a olhar com gratidão o sol, bendizendo-o pela alegria que me causava."

"Pelas dificuldades que enfrentara, já não mais havia para minhas tristezas o consolo da luz do sol e das brisas primaveris, dado que, positivamente, os prazeres e a alegria não tinham sido feitos para mim."

"Aqui está, pensei, um desses seres que parecem só existir para transmitir sorrisos e alegria a quem os cerca, menos a mim."

"Greaças às lições de Félix e às leis perversas dos homens, eu agora aprendera a cometer o mal."

"Sou mau porque sou miserável. Acaso não sou evitado e detestado por toda a humanidade? Considere isso e diga-me por que devo usar de mais piedade com o homem do que ele comigo. Porque devo eu respeitar o homem se ele me despreza? Que ele viva em paz comigo e deixe-me viver. Então, em vez de malefícios, derramarei o bem sobre sua cabeça, agradecendo por ter-me aceitado. Mas isso não é possível. Os sentimentos humanos são barreiras intransponíveis à nossa união."

"Procure ver-me, (...)pelo menos uma vez, sem rancor. E que esse vislumbre de bradura que parece agora emanar de seus olhos se espalhe sobre seu coração."

" - Como são inconstantes os seus sentimentos! Há apenas um momento, você se comovia(...), mas logo volta a armar-se de insensibilidade e dureza."

"Rememorei a promessa de virtude que marcara o início da sua existência e da subsequente derrocada de tudo o que nele havia de bom, por efeito do desprezo e aviltamento com que retribuíram às suas boas intenções."

"Não obstante, como o homem é cego para mil pequenas particularidades que prodigalizam a delicadeza feminina! Ela ansiava por pedir-me que não tardasse em voltar, mas um sem-número de emoções tolheram-lhe a voz, despedindo-se de mim num silêncio cheio de lágrimas."

" - Isto sim é viver! (...)Estou pronto para alçar vôo como um pássaro! (...)Viva, meu amigo! Tudo aqui nos convida à vibração!..."

"Sensível e dileto Clerval! Mesmo agora me enche de ternura recordar suas palavras e me alegra render ao seu espírito bem formado o preito que merece! Ele era um ser formado 'na própria poesia da natureza'. Ao entusiasmo de sua imaginação causava-se a profunda sensibilidade do seu coração. Sua alma ardia em afetos, e sua amizade era daquela natureza encantadora e devotada, que a muitos parece só poder ser encontrada na imaginação. Mas não bastavam simpatias humanas à sua mente ansiosa. O cenário da natureza aberta, que outros consideram apenas uma festa para os olhos, era para ele objeto de um amor ardente."

"Eu fora feito para a felicidade singela e sem arrebatamentos."

"(...)nem tudo são flores na vida de um viajante. Os sentimentos vagueiam ao sabor das circunstâncias e, quando pensa ter chegado a um ponto de repouso, é levado a deixar o que lhe dá prazer em busca de algo novo, numa sucessão contínua que não lhe permite fixar-se."

"(...)pude viver sossegado e livre de olhares curiosos, mal recebendo agradecimentos, tal é a incapacidade de demonstrar sentimentos a que conduz o sofrimento humano."

"Você é meu criador, mas o senhor sou eu. E terá de obedecer-me.
- Passou a hora da minha irresolução e também do seu poder. Suas ameças não me intimidam,(...)"

"Julga-se com direito a ser feliz enquanto eu vivo em maldição? Você pode privar-me de tudo a que eu possa aspirar. Mas não pode impedir minha vingança. Cautela, porque sou corajoso e, por isso mesmo, poderoso."

"Que mutáveis são os nossos sentimentos, e como renasce em nós o apego à vida, nos momentos extremos!"

"Estava, no entanto, condenado a viver."

"Eram meus irmãos, meus semelhantes, e era de minha natureza amar e desejar o bem do próximo. Mas não me sentia com direito à sua convivência."

"Tudo que almejo é que seja feliz, meu amigo. Isso me bastará para que coisa alguma deste mundo tenha o poder de afastar minha tranquilidade. (...), e se eu vir um sorriso que seja em seus lábios, quando nos encontrarmos, causado por este ou qualquer outro de meus atos, terei alcançado a suprema felicidade."

"Ah, sempre existe o consolo da resignação para o infeliz; mas não há paz para o culpado."

"Dia virá em que o tempo há de curar suas feridas, e então haverá novos e queridos enter para tomar o lugar daqueles de quem fomos tão cruelmente apartados."

"(...), comparada com a perda de Elizabeth, a morte pouco significava para mim."

"Míserio que sou! Que maior condenação pode existir que a de viver!"

"Como diferem sobre a alma humana os efeitos da mesma paisagem, segundo o estado de espírito em que nos encontramos!"

"Pela união dessas qualidades, concebi e executei a criação de um homem. Mesmo agora não é totalmente sem paixão que recordo minhas divagações, quando a obra estava por terminar. Eu me transportava aos céus, ora exultando com meus poderes, ora inflamado ante a perspectiva de seus efeitos. Desde minha infância fui imbuído de esperanças elevadas e de uma ambição altruística; mas como decaí!"

"Como desejaria reconciliá-lo com a vida! Mas ele repele a idéia."

"(...), mas quando você fala de novos laços e afetos, acredita que haja alguém capaz de substituir aqueles que partiram?"

"Mas tive o privilégio de possuir amigo, queridos não somente por força de hábito ou simpatia, mas por seus próprios méritos, e onde quer que eu esteja a voz consoladora de Elizabeth e as palavras de Clerval estarão sempre a sussurrar-me ao ouvido. Todos, porém, estão mortos, e eu, absolutamente só."

"VOCÊ PODE SER FELIZ. Que os céus o abençoem e que assim seja!"

"E por que gloriosa? Não porque o caminho fosse fácil e suave(...), mas (...)porque cada incidente exigia coragem e força para ser superado, porque o perigo e a morte a cercavam e lhes competia desafiá-los e vencê-los. E agora, vejam, diante da primeira(...) grande e temerosa prova de sua coragem, recuam como se fossem homens sem condições de(...) enfrentar os perigos. (...)Sejam homens, ou mais do que homens! Sejam fiéis a seus propósitos e rijos como a rocha. A substância destes gelos não é a mesma de seus corações. Ela é mutável e não pode detê-los, se assim o determinarem. (...)Regressem como heróis que lutaram e venceram e que ignoram o que seja voltar as costas ao inimigo!"

"Eu fui criado para o amor e para a piedade. E quando, cruelmente desviado pela maldade e pela injúria, atirei-me ao mal, meu coração sentiu, como nem mesmo você é capaz de imaginar, a tortura dessa mudança."

"Sabia que estava semando minha própria desgraça, mas eu era escravo, não senhor, de um impulso irreprimível. Tinha alijado de mim todo sentimento. O mal passou a ser minha razão de ser. Eis que agora tudo chega ao término."

"Admito que minhas ações passadas não estimulam qualquer boa impressão a meu respeito. Mas não procuro quem compartilhe de meu infortúnio. Sei que jamais poderei encontrar piedade. Quando pela primeira vez a busquei, era dos meus sentimentos de solidariedade, dos meus anseios de afeito e compreensão, de minha inclinação para o bem que eu esperava que algué compartilhasse. Mas agora que a virtude se tornou para mim uma sombra, e a felicidade e o afeto se converteram no mais penoso e abominável desespero, onde buscar e de quem esperar simpatia? Contento-me em sofrer sozinho. Sei que, quando morrer, a abominação e o opróbrio pesarão sobre minha memória. Outrora alimentei esperanças de encontrar seres que, perdoando minha forma exteiror, me amariam pelas qualidades morais que eu pudesse contrapor a ela. Acalentei-me de elevados pensamentos de honra e devoção. Mas agora o crime me degradou à condição do animal mais vil. Quando relembro a cadeia das minha iniquidades, não posso crer que sou a mesma criatura cujos pensamentos eram antes repletos de sublimidade e de visões do bem. Mas é justamente assim. O anjo decaído torna-se demônio. Entretanto, mesmo aquele inimigo de Deus e do homem tinha amigos, e seguidores. Eu sou sozinho."

"É justo isso? Devo ser tido como o único criminoso quando todo o gênero humano também errou contra mim?"

"Diante de tanta incompreensão e tanta injustiça, tangido pela revolta, assassinei criaturas inocentes, que nem mesmo sabiam da minha existência. (...)Por mais execrado que eu seja, nada iguala o desprezo que sinto por mim mesmo."

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