Escuro. Silêncio. Luzes. Estranhos aos meus lados.
A alegria pós-chocolate, a ignorância dos plásticos
silenciosos cegados, observando por através do tecido florido da bolsa no chão.
A bolsa no chão, ela e todos os meus sonhos, como já dizia o
sábio (e natural e obviamente, por consequência ou causa, ou mais precisamente
por conjunto, maluco) Piauí. Da Paulista.
Sombras.
O vômito mais poderoso do que nunca do velhinho, do Tio, do
pobre de si, do dono da podridão, do aminimigo, do homninimigo, sem o homem, do
Sam.
Construo a ideia-maravilha daqueles homens delicados, do
marte sensível, do guerreiro aconchegante capaz de sentir na pele de dentro as
gotas de chuva de sorvete britânico. Doce. Doce como é doce uma ilusão qualquer.
Qualquer.
Mas pausa para a macaca. A macaca-noiva e sua rosa torta, e
sua rosa torso. Promessa da noite e eu ainda não sabia o que era o seu algo
especial. O seu? Daqui a pouco, a devoraria.
E então me é dito, como eu lhes diria.
Que ao ler seu poema pensei que poderia eu mesmo ter escrito
todos aqueles versos. E derrepente (sim sim, não há como separar. Não há. Se
parar, não há), assim, meu corpo quis dançar tudo o que eu já tinha escrito.
Gostaria
rapidamente de relembrar-me de que as palavras são o de menos. E de que eu não
pretendo, nesse momento em posso dizer que hipótese nenhuma, respeitar as
linhas tortas que decorastes; tolo.
A minha poesia são pedaços que caem de mim.
A minha dança, é uma poesia inconsequente que trocou o papel
pela vida.
Também posso decorar falas fáceis. (Obrigada, querido, pelo sopro de
conseguimento;). Quero-te (e fique bem muitíssimo claro que tudo o que não
quero é a ti), dizer que chupes essa manga, mas isso assim não o direi, você
não se interessaria pela minha falta de postura, de sensibilidade, e de estilo.
E nesse momento a música de teu corpo, como se aquela rua
fosse minha, fez-me sentir cada pedaço caído meu a rodar na névoa que compõe
todo palco, na própria centelha luminosa que talvez imprescindivelmente
constitui toda arte. Que eu conheça por enquanto. E sorri, e de mãos e corpo
aberto quis receber toda aquela magia densa e colorida de amor forte que
colocaram naqueles dois corpos entrelaçados, em guerra, em paixão.
Na criança de dentro da mulher agonizante que é cada uma que
já sentiu o amor. Um amor. A. Talvez até literalmente – e isso só poderá confirmar
meu colega do lado direito de plateia, pobre homem cuja tranquilidade de
espectador eu talvez tenha jogado no chão em meu impulso sinestésico; talvez
até literalmente eu tenha vibrado com a mulher vibrante que se fez de todos os
tamanhos que o moço ali poderia supor e,ou, precisar. Adequando-se, a camaleoa
bordô de seda. Senti-me ali e aquilo era puramente o leão {o verdadeiro que
sabe e que minha voz proclama mesmo mais do que cons(ciente??)mente gostaria de
limitar-se a querer, e não esse outro, esquisitamente desajeitado e incômodo, e
meio incabível até onde minha memória me permite saber de lembrança, que se
adoraria se fosse esse ser}, em cada abraço de suspiro entregue. Entregue
estava a força bruta logo no outro segundo, estirada ao chão, contorcida após
se render ao esmagador cotidiano imposto. E então a mulher era eu impedindo que
a cabeça de Carlinhos de espatifasse pelo solo negro, que lhe iria revelar todo
o nada que ele, ainda velho, naquele dia ainda não quis conseguir ser. E chorei
sorrindo, sentindo a completude de um dia de libertação, de um dia sem casulo,
de talvez um novo redescobrimento – que certamente ninguém sabe quanto dura
antes de ser esquecido sob o pó, isso só a possível vontade futura de minha
luta visceral nos dirá.
Depois o choro que eu lembrei-me criança, quando constatei o
gosto bom que a lágrima tinha por trás dos dentes escancarados, e como aquilo
era bom pra matar o pudor. O se perceber frágil e absorvendo isso por meio da
simples, e não sei dizer se pura só na minha cabeça ou realmente, mas tenho
muito claro que da simples vida, conseguir achar graça. A graça.
Foi
quando então em meio a uma gostosa crise asmática, poltrona onde eu me sentava
massageada o suficiente para entender a inutilidade do medo de estar sozinha
que acordou comigo nesse mesmo dia revolucionário, bang.
Ofereces-me toda a sua pequenez, tentativa de piada.
Quebras a verdade de um riso espontâneo, com que liberdade?
Com que liberdade maior? Porque essa comparação?
Daquele momento em diante – e vou parando por aqui porque em
mim já há pecados demais para que eu consiga, e depois em paz, querer discorrer
sobre os teus – caiu o palco onde dançou teu corpo bonito em tua mente, e na
nudez sob a meia luz te vi deformado como algo que não foi feito preparado para
que o virassem do avesso. Lembrei da tristeza que sinto com palavras vagas que
conseguem ser tocantes, e com o medo que ainda amo ter das coisas que me
enojam. Tive nojo, não vou te mentir. E a tua madeira pesada, Jerôôônimooo, caiu
sobre minha alma naquele momento, em que precisei fechá-la para o seu caminho
avassalador de homem matéria de vestido, recusador do guiar consciencial.
Nasceu
de novo a mulher, sem vestido, sem nada. Ela nesse momento tudo. Estrela,
famosa, talvez simplesmente porque quis dizer com tudo isso e os livros no
chão, nada mais que a inocência do boa moça. E tu querendo chuvas de rosas
sensuais. Prefiro o soprinho. Prefiro a asma. Prefiro qualquer coisa que dentro
de mim não faça medo como me fizestes naquele momento. E lembrei de Patch, e
lembrei de Cynthia, e lembrei que felicidade alheia para essa grande árvore de
flexibilidade que és teu corpo sensível e desprovido de Deus, só é boa dentro
do patamar em que não voe. Então me aterrei, mas não posso permitir que tua
proximidade preencha minha boca e todos os meus órgãos vivos de terra. E deixo
com você a terra, querido. Que consigas plantar nela uma flor maior que teu
corpo sujeito à gravidade, e aí quem sabe um dia próximo numa outra sala escura
metadeada de cadeiras, queiras voar em conjunto e absorver tanto quanto eu
tentei, esse bonito passeio coletivo pelas estrelas floridas da arte humana,
Ah, risca essa assinatura podre!
Que bom, que graça, que graças, não ter eu tentado semear
esse pedaço de assassinato, bem no finalzinho. Ainda bem, Bem, que o amigo
Fábio pôde acender a luz dessa ânsia que rodeava minha garganta e meus dedos
impregnados de juíza-mentira quando eu te condenei ontem à noite. Que te dizer
como eres foi símbolo-mastro de minha maior fraqueza. Essa distância, esse
cruzar tão hipócrita e mentirosamente sobreposto a tudo que eu digo e a cada
bandeira que carrego cravada em meu peito, foi isso onde pequei. Onde manchei
de negror fétido a linda experiência receptiva com que minhalma deliciava-se,
com que ressuscitamos, todos nós.
Por que temi olhar seus olhos, admirar tua arte querer que
te transformasses nela naquele minuto? Bem sei que poderias. Bem sei que é muito
provável que me tenhas em esquecimento, que é muito provável que realmente
aquele oferecer tenha sido uma rosa. Uma rosa tão cálida como é teu coração
saltitante e impulsivamente repulsório, repulsante, repulsivo aos desatentos
como eu; reverberado de pés sujos no salão-casa mais bem mal-iluminado que já
viram esses olhos. Que neguei a força de tua magia negra, e por quê?
Talvez seja isso que recém-nascidos fazem nas incubadoras. Roubam
do mundo um momento e uma mãe que não tiveram para poderem consumir a vida com
o próprio sangue uma vez que libertos.
Então me perdoe, mãe Mickey arte corpo Jerônimo belo baque
no solo do coração que sangrei naquele momento triste de fechamento de minhas
portas-janelas ao que teu belo nos oferece. E por não sugar até o esgotamento
aqueles segundos em que te sentastes do meu lado, para infringir sobre todo o
pedaço de ordem dentro de você que me mata ou assusta, a maior beleza do meu
amor, a que não se pode dar nome nem forma, mas é ele sim e só (solitário), e
talvez também só de unicamente, o que eu quero agora chamar poder.
E fica, e fica aqui, e fica em qualquer coisa e também eu sou coisa quando digo assim,
no mínimo tudo o que for flor e mulher dentro de cada um deles.