quarta-feira, fevereiro 25

Agora a minha opinião.

Meu Deus, como é bom poder entrar nos pensamentos de alguém tão brilhante. Mary Shelley teve o talento necessário pra difarçar dentro de um "conto de terror" duas opções, dependendo da vontade de quem ler. É possível, sim limitar-se a enxergar o monstro terrível e o pobre cientista Victor Frankenstein, que sofre e sofre e se martiriza (Ó, pobrezinho) durante todo o relato. Entretanto, para quem quiser ler nas entrelinhas, existe uma profundidade na reflexão dessa mulher que me faz considerar essa história muito, muito, muito, muito mais reflexiva e profunda do que uma história de terror, considerando tantos outros significados da situação de criatura e criador, para os quais o rótulo dado seria tão insuficiente e até mesmo vago, que eu ouso dispensá-lo.

A criatura, que tão erroneamente vem roubando o nome da história da qual faz parte, é das personagens mais fascinantes às quais eu já tive acesso até hoje. Que profundidade de caráter, que lucidez um pobre e incoerente homem conseguiu conferir à materia que animou.
Eu concordo muito com ele, apesar de lamentar sua derrocada para o mal. Sabe, acho que é aí que reside a atemporalidade de Shelley, no fato de que o comportamente da massiva maioria da humanidade se repete ao longo da história, oprimindo e colaborando para a perca de personalidades surpreendendemente interessantes para o lado negro da força, por simples incapacidade de ver além do invisível, de ouvir o pequeno príncipe e entender que o essencial é invisível aos olhos.
Ou vai dizer que não é a mesma coisa, que a sociedade não veja um favelado do Rio de Janeiro como um monstro, um drogado como um monstro, um assassino como um monstro, sem ter o mínimo interesse em estender a mão, em tentar entender, respeitar, comparar se você não tem mesmo nenhum dos defeitos do outro dentro de você mesmo, antes de julgar e entitular as pessoas à nossa volta como boas ou más, dignas ou não do nosso respeito.
Merda de julgamento. Não existe e nunca vai existir ser humano nenhum, de lugar nenhum, que não seja digno do respeito de todos os outros e de si mesmo. Porque é visível até mesmo na magnífica conclusão feita pela obra de Victor sobre a sua existência, o tamanho do desprezo e da falta de amor que a criatura tem por si mesma. É impressionante o poder de algumas pessoas (infelizmente da maior parte delas) de fazer outras, maravilhosas, sentirem que não merecem a felicidade e que não podem aproveitar as oportunidades que fazem todo o resto feliz, então se sentindo injustiçados eles se vingam.
E sempre foi assim. E tanta gente deixar e colabora pra que continue sendo.. Quando ri de uma pessoa feia com que nunca conversou (O QUE É FEIO E BONITO A NÃO SER UMA OPINIÃO RIDÍCULA BASEADA EM ESTEREÓTIPOS? QUAL É O VALOR DISSO?), quando julga alguém por uma atitude sem procurar oq ue está por trás dessa atitude, quando assiste a qualquer grau de injustiça mas não se manifesta por comodidade. É por isso que ainda existe tristeza no mundo. Culpa de cada um de nós que precisa aprender a agir pelo simples, porém intenso e muito recompensador prazer de fazer o bem.

Já o Victor Frankenstein, apesar de muito inteligente, muito fraco. Fraco demais para assumir as consequências do que faz, pensa e quer. Fraco pra reconhecer os erros, fraco para aceitar ajudar e ser ajudado por algo ou alguém que ele julga inferior. Fraco demais pra merecer ser tão citado, tão descrito e tão confundido com um 'monstro' tão maravilhoso.

Ah os outros, humanos normais. Cheios de qualidades mas também cheios de barreiras que não querem se desafiar, se arriscar a transpor. Então contentam-se em existir dentro da sua insignificância enquanto deixam um pouquinho de luz e alegria aqui e ali, mas sem nunca achar o sentido de suas vidas. Em outras palavras, comuns, ordinários, dispensáveis. Como infelizmente a maioria da humanidade sempre se contentou em ser. Tomara que isso mude a tempo. Na minha vida já mudou, ainda bem, graças à mim e com o consentimento de Deus.

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