domingo, agosto 15

,Sucessão

Hoje vou sair.
Vou sair e nascer como uma estrela, e brilhar como uma flor.

Se as raízes de tudo o que quero aquecer e transmitir ao universo escuro profundo e soberano, aquele que às vezes profano se apodera de mim e tampa minha luz arriscando um incêndio imenso, vingarem na terra incerta sem piso e sem segurança que é o desconforto de viver e de ser estrela, então o orvalho da noite quente que absorve o mundo e suas angústias me abençoará.

Quando enfim cair sobre um corpo vivo e latejante uma nesga da minha luz, distante, sentirei como pela primeira vez a utilidade. A utilidade que já se provava forte e decidida dentro da minha minúcia de grão quando toda a explosão que agora parte de dentro do meio de mim ainda era reclusa em uma pequena cápsula brilhante e discreta, e esquecera-se de que tinha dentro de si todo o poder e o fogo de uma estrela-flor.

Então minha noção e meu sentimento se expandirão e perceberei como atinjo tudo, perto e distante. Como minhas raízes flutuam e penetram os mistérios do céu maravilhoso e reviram a terra que tenta cobrí-las, e são notadas pelos passantes por cima delas, e modificam com sua delicadeza o asfalto, que se julgava soberano. Como meus raios chamam e puxam coisas e planetas que se aglomeram e organizam e passam a viver em função da minha existência de estrela, e eu poderei girar apenas em torno de mim mesma, e não sair, mas ficar e fazer saírem, e ter vidas que levem minha vida a outros cantos, e ter cantos onde minha vida chegue e se espalhe como um perfume pelo qual se espera sem saber há muito, há tanto, há quanto tempo?