quarta-feira, junho 23

o troféu e seu casco.

e se o que se é estiver mesmo pairando em algum ponto do lado de fora?

como faz a tartaruga?!
sua corrida foi penosa e lenta e a mais rápida aventura que seu coração já sentiu fazer bater.
suas pernas cansadas se relembram de como não ficar parada, apenas disso ela se recorda.
nada de viver, apenas não parar. ela seguiu e conseguiu o que tanto queria.
o que mesmo ela tanto queria?
agora que o tem, que quer que lhe tenha sido assim tão querido por um instante ou dois, não se sente mais porque agora não é desejo, é realização e essa chama não queima, apenas perdura.
sobrevive.
mas ela quer viver. ela quer lembrar-se do que é não ser o algo a mais que a empurra passo a passo rumo à linha de chegada, esquecer-se de que agora se tornou tartaruga de novo e apenas isso que é. sem enfeites, sem abraços, sem merecimento.
apenas velha e cascuda e dura, e agora cansada.
mas com algo nas mãos pelo que foi alguma coisa diferente. por alguns momentos de intensidade, ela respirou aquele troféu que não via,
mas ele viveu dentro dela.
e agora que está em suas patas largas, todo seu e tão seguramente conquistado, tem dono,
e por isso já não mais lhe pertence,
não faz parte de seu desejo e não lhe desperta movimento. revê o coelho perdedor.
quisera ela saber agora, lembrar tão bem quanto lembra do saltador em dormição por quem passou, traiçoeira sorrateira e triunfante, por que quisera tanto aquela sensação,
que não aprendera a sentir.
não sabia ser a dona do prêmio, não sabia sentir o primeiro lugar. sabia querê-lo, e nisso era mestre.
era mestre em crer que iria avançar a despeito de sua casca pesada, e em torná-la leve de convicção e de garra, mesmo sem ter dentes ou coisa parecida.
seu casco.
por ele não conseguiam mais entrar as remanescências do que fora no percurso, e que agora altaneira no pódio máximo, desejara saber por qual parte do caminho tortuoso estariam perdidas.
o casco a bloqueava do mundo que precisava respirar para se tornar algum bicho mais dinâmico, mas deixava entrar o poder da vitória que a envolvia e incapacitava.Era filtro potente de coisas pelas quais seu coração vibrava, mas não sabia ainda se defender da luz dourada que continha em suas 'mãos'.
viveu aquele segundo de invejada glória como um parasita alojado em seu troféu reluzente.
pensou sério em deixá-lo cair, e vendo o símbolo estourar, quem sabe estourasse também a bolha de ar manso que havia tirado seu apetite pela vida e pela vitória que não possuísse.
pensou também em inovar, apavorando os espectadores com seu lado mais negro e, vazando de ferocidade, mandar todos os falsos admiradores para suas casas de solidão.
pensou também no que era, e não o sabia. pensou que talvez devesse achar melhor simplesmente aceitar aquele troféu, afinal o merecia, e tornar-se o que ele bem entendesse em fazer dela. pensou. e pura e desesperadamente.

e agora,
como faz a tartaruga?

num aquário

não faz mal se tiver um pouco de amor demais.
ou um pouco de dor demais, de gritos e choros e espancares o ar inocente, enfurecida.
não faz mal a ferida aberta e o sal que viver e suas lágrimas derramam sobre ela.

se o mendigo é capaz de sorrir enquanto torna-se parte da paisagem, não faz mal.
se a flor pisoteada ainda encontra abrigo na terra e dela tira a força de cedro para continuar a nos deixar respirar, mal não há.
se em qualquer parte uma criança que seja ainda acredita, mal não tem.

tudo ficará bem, e as novas cores de ventos recém-nascidos tragarão o que de frio deixamos crescer dentro de nós,
e rolando como as ondas irão perder-se no fundo de algum aquário antigo , incapaz de prender qualquer atenção importante, as feridas, o amor, os inocentes, a flor e o mendigo e a criança.
e a vida.
anônima e despercebida pelos transeuntes.

Um resto

e agora é tudo feito de adeus.
sobram pedaços de pétalas pisoteadas e cuspidas, arrancadas e lançadas pelo chão da sala.
sobra meu ventre natimorto em que o amor foi cuspido na primeira suspeita de trapaça,
que se viu mais só do que já era antes, assim que não foi mais capaz de enganar-te.

a infertilidade das palavras doces e dos gestos débeis com que você me contaminou,
a vontade de não me ser, mas a ser, ser o lindo ser que é a brisa suave que faz seu catavento querer ser soprado para seus lados, ser os raios que o seu girassol segue involuntaria e apaixonadamente.
a raiva do que existiu e da concessão muda que se fez com cada sorriso, de que o meu corpo te pertenceria o quanto entendesses e as correntes seladas entre nossas almas, eram eternas e só suas.

saber que as palavras fortes nunca terão a violência e a fome do peito carcomido pelas lembranças nauseantes, embalsamadas e amortalhadas num falso e frágil pacote podre de amor.
esse peito que grita em seu silêncio que mil mundos não conseguiriam decifrar.
esse peito que nem peito mais sabe se é ou não.

esse peito que viu seu calor de primavera passar, e quieto, sobrou na multidão.

comandante surdo

qual mesmo o sentido de se querer justo esse amor que é surdo?

ele não tem ouvidos para o que lhe ordenamos,
é um rosto feito de boca e olhos. Fechados para a alma do outro, abertíssimos para o coração desse mesmo pobre diabo, que os admira boquiaberto. Não consegue negar.
são belos os olhos do amor.
o amor não cheira o gosto salgado das lágrimas do outro, não não.
ele apenas sente com delícia seus poemas apaixonados e regojiza-se vitorioso.

é ele que queremos e é a ele que aceitamos quando volta sem permissão.
sem aviso nem data marcada.
sem a menor preocupação. ele não ouve se nossos passos já lhe ultrapassaram.
se julga nosso semelhante,
sem querer enxergar que é carrasco.

E VOLTA
dotado de tanta despretensão quanto o mais ambicioso dos corruptos.
e desvirgina mais uma vez os olhos do outro, que tinham reaprendido a olhar a vida com inocencia.
e profere mais uma vez as palavras malditas, que tiram o sono do outro e pousam-no na estante dourada e macia do amor.
e surdo, guarda sua cobaia de (alguma)estimação, na gaiola suja que disfarça de palácio.
e não deixa espaço para não, não há lugar em seu rosto de beleza estática e gelada para perguntas, não sabe responder. só sabe cativar, sem garantia nenhuma. aprendeu a convencer a cada nova vez que se repete, que é aquilo que o outro quisera e imaginara desde o princípio.
e o segura.

E VAI
desmoronando com sua partida a prateleira, a escada, o coração, a boca, os ouvidos, os olhos mais uma vez vidrados e o coração de novo tornado em pedra.
deixando tudo o que não se quer, todas as cicatrizes inescondíveis que atiçam a memória.
queimando no seu gado marcado o sorriso maligno, a boca de dentres podres e satisfação venenosa. mais uma vez ele venceu.
como sempre, ele venceu.
elegante e sorrateiro, ele venceu e sua ida já o levou para longe.

e o outro, e o amor, e qual seu fim?

não termina.
quando se cansar de ir e vir, e por fim largar as cartas, soltar a âncora, pronto e confiante de que atracou seu grande navio repleto dos tesouros de pérolas que arrancou das ostras de pureza dos outros,
não estará em porto seguro.
se tornando o proprio outro, perdido em um rosto-rodamoinho maior do que seu sorriso-barco,
girando por tempo indeterminado em alguma parte do fatídico mar, muito mais poderoso do que seus ouvidos surdos e muito menos suscetível a mudanças do que seus olhos calculistas e deliberados, e dissimulados.

se um dia o barco não naufragar
sairá cheio da colérica vingança com que foi inundado.
e sua tripulação de olhos e bocas e palavras sórdidas continuará em busca dos ouvidos que o crocodilo engoliu,
exausta e persistente
inevitavelmente(será assim alguma coisa?) desejando nunca ter contaminado o outro com suas doentias vilanidades de amor.

começo .

sim, não.
sim, é obvio que nao poderia sair só de si próprio tudo que na vida se jorra por aí ao vibrar o ar que se respira.
não, não sei ainda, até onde vai esse poder dos outros de nos fazer alguém outro, o outrém.

morre algo dentro da alma que sorri falsamente,
quando atônita ela imagina o que há por debaixo da capa,
o que ainda existe dela mesma, morando pelos cantos sujos da casa abandonada que é o apenas ela, que é o que o mundo não deixa ser, que é o que talvez nem seja mais,
não a deixa descansar em paz.

como pode dormir e arriscar que a máscara caia,
como não agarrar-se constantemente aos fios dessa capa de mundo e de outros que já faz tão parte dela?
COMO

silenciosa ela segue sabendo que ninguem lhe dirá.
nenhum grito lhe denunciará as escaras na face quando o vento soprar para longe sua falsa pele, já tão parte dela;
ao menos não à sua frente.
o mundo continuará girando enquanto lhe observarem pelo canto dos olhos, ardendo em carne viva,
seu sentimento à mostra, seu coração palpitando do lado de fora.
Ela mesma, e pela primeira vez nua. Despida e livre do que os outros a tornam.
também é escrava disso, de ser só,e apenas o que é, agora que não pode mais a volátil versatilidade que a sintonizava chave mestra da porta humana que escolhesse.

e a alma caminhará,
pois não lhe ensinaram a parar.
Até que se depare com o olhar que aguarda e cuja sede lhe impulsiona as pernas fatigadas,
e uma criança lhe olhará, e sentirá tristeza por ela
e perguntará à soberana o motivo de sua nudez
compartilharão um secreto momento, unidas porque não têm vergonha.

uma que nunca soube ser senão o que é, simples lagarta
e a outra borboleta desalada, humilhada e traída e roubada pela ida da vida dos outros, que um dia lhe deram uma capa pra vestir e esqueceram-se de atá-la bem, deixaram de protegê-la das intempéries do caminho.

mas da criança ainda se lembram,
e a mãe virá correndo, estilhaçando a cumplicidade cristalina da amizade instantânea que não dura mais do que o tempo que levou pra se consagrar.
isso porque não pode ser,
e terá o dedo do ventre protetor apontado para suas feridas abertas,
empurrando brutalmente os corações amigos em sentidos opostos.
ensinando à criança o medo, a vergonha, a urgência de esconder o que se sentiu e não podia ser.

suja e humilhada ela re-ergue o olhar tão recém-nascido e sacode-lhe a poeira.
"EU ensinei uma lição".
a alma continua em galope pelos trilhos que ineditamente ninguém lhe emprestou.
eles lhe pertencem,
e ela respira completa pela primeira vez.

domingo, junho 13

ANONIMO (ou confessional e coletivo?!)

Amar é como
voar!

É sentir a sensação de estar no
alto
,
é ter medo de cair!

É fazer dos pesadelos sonhos,
e sentir-se
pequenino
perto de quem ama!

É sentir-se grande ao se saber amado.

Sem música

talvez pra começar, talvez antes, talvez como prelúdio do precipício exercitante do pensamento.
mas por favor, pelo menos a mim, não me venha com 'música para escrever'
se já me é desgastante o bastante o tentar desembaralhar todos os acordes primitivos, as vezes malformados e as vezes, ainda, até, guturais, das ideias que me vem e que esperam que eu as lace, as vezes meu leão, as vezes meus cordeiros - desnecessariamente oficializarei que prefiro as feras -, e domá-los ou ordená-los em frases, fazer com que todos eles caibam em linhas.

É que fazer isso aqui já é tentar ouvir a própria musica, que toca mais baixo do que estamos acostumados a ouvir, esperando calma e cheia de desejo que desconectemos os fones de fora e permitamos que funcionam e desenferrujem-se os de dentro, e que os sons possam começar então a sair,

boanoite.

muita graça

me canseeeei de lero-lero; dáááá licença mas eu vou sair do sério.
quero mais saúde; me cansei de escutaaar
opinião
de como ter um mundo melhor, mas ninguém sai de cima nesse chove-não-molha
sei que agora eu vou é cuidar mais de miim

hooOo hoOu

Como vai? Tudo bem? Apesar, contudo, todavia mas porém
As águas vão rolar, não vou chooorar (não).
se por acaso morreeer do coração,
é sinal que amei demais
Mas enqanto estou viva, cheia de graça, talvez ainda faça
um monte de gente feliiiiiiiz !

Então só por agora vou fingir que Ana só significa cheia de graça e que cheia de graça só significa Ana, e que essa então sou eu, sem nenhum alteração, sem nenhuma Carolinagem, só Ana calma e tranquila e como sempre, sem hesitar, sem resistir. E você vai deixar.
E o que custa se fingirmos nós dois, nós todos eu e vocês meus pedaços que somos só isso, como nos vemos agora e como a música nos faz sentir a vida que tangenciamos. Sim, porque algo tão puro e constante eu não vejo como teria aptidão ou oportunidade para entrar na vida e pertencer à sua circunferência mas somente para tocá-la, se é que e apenas enquanto fosse capaz, ainda que apenas disso. Quem sabe observar da vitrine, os manequins animados interagindo e levantando e caindo e dormindo e acordando e sempre alegres e tristes, geralmente ao mesmo tempo e em lugares diferentes de si próprios. Mas como são impróprios, pensaria essa Ana toda branca, sem nunca dizê-lo, ela não magoa, ela não demonstra, ela apenas graça. Pobrezinha.
Será que um dia saberá o quanto é bom tropeçar por esse tortuoso desenho perfeito em forma da linha curve infinita que nunca cansa de se repitir? E quando o ciclo acabar, estará ela pronta para se enveredar mais uma vez por suas florestas repletas de espinhais e carrapichos e feras à espreita a cada curva subita que a trilha dá? Seria a cheia de graça capaz de não ir pela trilha, uma vez que foram outros pés que a traçaram e outros olhos que viram primeiro o fim do caminho onde ela iria acabar? Será que ela entende que talvez não faça ninguém feliz, quanto mais um monte de gente, e ainda assim mantém inabalável sua fragilmente linda suavidade? Ou estará ela fazendo o que você também faz quando ninguém te vê fazendo?
Talvez ela não saiba, nem sonhe, que se encaixa em algum também do mundo, tão cheia de sua graça que é. E quem sabe isso lhe tire o direito a todo o resto, a cuidar dela, a se cansar, de lerolero, ou de qualquer coisa, a embaralhar adverbios que amontoa tentando ligar as adversidades de suas ideias, sem o mínimo sucesso. É de dar pena toda essa graça.
Me conforta enfim voltar os pés aqui na madeira fria da madrugada de um dia de feira e saber que tudo isso não passou de fingimento. Que alívio saber que o círculo espera por ela não apenas para tangenciá-lo, mas para vesti-lo, sê-lo, para fazer dele o que quiser e precisar quando o quiser e precisar. Só espero que saiba, essa garota, que ele leva novamente ao ponto de partida, independentemente e por mais que tenha sua localidade sido transferida e o cenário por onde ela tateia no escuro a continuação da linda linha dentro da qual ela se sente no caminho certo.
Ainda bem que existe em algum calabouço dessa história toda um pouco muito de Carolina, e que sua intensidade rouba da parte Ana um pouco de toda a sua graça, caso esse já absolvido e condenado por vereditos muito diferentes, e que porém continua intrigante, essa espera pela revelação de toda Carolinadade que se guarda nesse corpo dividido. Viva a dualidade, tão diversa como mais não se poderia supor!

Polvo,o mar,o sol. Ainda quero os raios.

Quero ter(e isso significa dar, irradiar, ou o que seja. não, irradiar até que funciona muito bem pra essa intenção) eum amor que saia, que cresça e do centro vá a todas as outras partes, feixe de luz forte vivo e volátil, e rápido ou lento conforme as batidas dos corações que cruza pelo caminho inédito de ar que traça ao passar o quiserem e escolherem. Que seja azul, branco e luz, amarelo, laranja, rosa ou verde pra quem precisar, que saiba ser de todas as formas mas que fundamentalmente nunca se conforme com seu tamanho e queira sempre crescer e sair, me deixar porque não é e nunca foi meu, como um rio que não pertence a sua nascente mas tem seu destino já certo, sem o saber.
E não algum rabugento, cefalopódico tal qual as bengalas de um velho animal que exaurido pelas amarguras que acumula no saco de pedras que carrega, usa seus tentáculos para se prender a uma caverna, onde mora seguro e sugando das paredes de corais sua verdade. Não dá pra ser assim porque se fosse tudo isso que entra no polvo, que seria eu, iria inchá-lo mais do que sua cabeça pudesse suportar, e de nada adiantariam tantas pernas, que ele tem, que eu teria, se não fosse torná-las luz e torná-las públicas e de todos os seus vizinhos salgados; se fosse assim seria a cortina de fumaça lançada sobre os próprios olhos tão peculiares que perderiam aí, nesse exato momento, qualquer utilidade. Que o amor não esteja nunca preso à mim, que um corpo de polvo é muito pouco pro tamanho que ele quer e aspira a ter, que ele precisa ter, que ele possa viver grande e solto e em todas as direções. Que principalmente ele esteja nunca nunca nunca conectado à cabeça e sim que sirva de mestre e exemplo para que o resto de mim, acomodado na caverna, sinta enfim desejo genuíno de sair.

Porque se for pra ser assim parasitário e só meu, que não haja amor.
Que se seja então grão, ou vento, e levado pela rua, e observando. Pela rua que eu enxergo e penso que conheço e entendo, cujos limites habitam o mesmo plano da minha compreensão. Que esse se deixar conduzir sirva então de treino para o grande mar. O grande e Posseidoso, nos levando por onde quer, e que ainda que não exista amor nos espalha por praias e corpos e sóis que ninguém viu porque a cada dia amanhecem novos, outros, refeitos pela maravilha do horizonte que tão suavemente os acaricia sempre. Lá eu não sou nada e nem consigo pensar em tentar ser, lá não há aprendizado mas apenas permissão, permissão para ser tomado e descobrir aonde a vontade de qualquer tormenta bem entender que quer nos levar. Lá não se vê fim, não se tem fim, mas apenas outras praias, desconhecidas e sempre povoada; se não por quem nos possa fazer sentir e ser polvo ou tronco de luz ou qualquer coisa que exista realmente e que alcance algo, pelo menos eu sei que lá existem grãos. Tão pequenos e frágeis e curiosamente com vontade de viver e de se tornarem o que talvez já sejam em algum lugar de sua miudeza quanto nós.
E prefiro uma onda que me leve com ou para quaisquer grãos do que a parasitariedade da caverna escura , me sugando, me sugando e acabando comigo, porque os raios querem sair e chegar, querem pelo menos receber luz, preferem ser lagarto estirado ao sol. Que haja por favor algum Sol.
E assim nos deixamos ir e levar,

outra oração?12.6

Mas que belo dia pra escolher se desesconder mais uma vez,hein.
Agora não mais, mas sim, 12 de junho, mais um desses dias que tão felizes nas memórias de quem os tem repletos justamente porque os viveu dividindo-os. Porque esse dia só se faz um inteiro se houver dois, mas será mesmo?

Tenho a dizer com sufocante honestidade que ainda não sei.
Vejamos por exemplo, tive um dia clássico. talvez até mais clássico do que o esperado. Não regado a lágrimas como tradicionalmente se poderia esperar, porque também me dói e me consome o não ter por quem chorar essas lágrimas que não guardo, que não moram no meu peito como tão heroicamente no das mocinhas cujos sonhos sempre dão o mesmo certo antes de os créditos rolarem pela tela. Foi sim e como foi regado a muito molho vermelho, de macarrão, e também o nosso fiel chocolate. Não tão voluntariamente como se pode supor, mas insistirei aqui em novamente culpar os reflexos.. Uma tal vacina do porco me trouxe uma linda batalha, travada de modo que respirar fica dificil, os rolos de papel vão se acabando e falar é uma tarefa hercúlea. Ok Ok exagero nesse dia, porque o dia não muda enquanto eu não durmo, pode.
Pra mim pode.
Pra quem faz parte da data por estar vivo mas não tem a data fazendo parte da sua vida (jájá eu descubro se eu acho que não tem mesmo ou sim), declaro para o alívio deste todo, que pode.
Sem culpa e talvez ajude um controle procurando um filminho que não aconteceu na sua vida ainda, ou pelo menos não agora. E nem presenciar o amor alheio me fez sentir o tapa da solidão. Senti seu abraço. Seu olhar esperançoso de alguém que gosta mas sabe que sua partida fará o outro melhor, ou pelo menos que é isso que quem se gosta pensa. E assim ela o fará, algum dia.
Só não sei, e nem quero tanto saber agora mesmo, se as saudades da solidão não seriam piores do que a ambição por algo de que ainda não se sabe o gosto.
Será que todos nasceram pra fazer gol e se esconder e correr por aí? Quem vai ser o goleiro, quem fica de pegador no começo da brincadeira? Quem abre a mão que não vai caber nas outras da roda, cerradas entre si, prontas e sem você? Talvez eu.
Num desses achados que só poderia rimar com Dia dos Namorados eu vi há pouco uma portuguesa(sim,num filme em inglês), que empregada e charmosa, não bela mas ainda assim interessante, cheia de gestos, cheia de desconhecimento do mundo dos outros e contudo tão cheia de paz e serena, dizer entre o maremoto de seus olhos abertos, revelando o coração turbulento: "Vou sntirr saudadsh suash"; ela o beijou e saiu. E eu desliguei.

Não foi impossível e nem me perturba agora (pelo menos agora, que eu ainda não deitei para deixar o silencio derramar sobre meu desejo de sono suas perguntas gritadas, suculentas, imoralmente irresistiveis) não saber se aquele caminhar rumo ao horizonte foi o ultimo. Se aquele turbilhão de sentimentos querendo se soltar da caixa, querendo romper as correntes, vai deixar ou não, algum dia, de ser somente uma ideia. Mas eu gosto de saber que ele existe.
Como um boneco de colecionador, na caixa. Fechado, amado, amante, curioso, desejoso, repleto até a última gota de vida pra viver, de amor pra gastar e distribuir, com um arsenal de lagrimas para despejar e furia pra atirar e tudo aquilo que nada aquém da sua liberdade pode lhe dar.
E ele espera. E respira sozinho o seu proprio ar. Sempre morno e sempre seu.
Poderá seu aroma algum dia morar em outros pulmões? Quisera ele.
Mas lá ele está, alto e lindo em seu pedestal, e quem o passa o admira, e talvez alguém o compre por muito mais do que apenas sua fabricação valeria. O que lhe confere valor até mesmo inestimável, de quando em vez, é justamente sua espera, resignação silenciosa que deu ao resto do mundo muito trabalho, pra manter o embrulho lacrado.
Quantos olhos que o miraram já não desejaram ter dilacerado com as mãos atrozes a santidade da embalagem fechada? E soltar o boneco, e lançá-lo, e sê-lo, e depois de tê-lo bem mas bem vivido quebrá-lo, e sofrer com isso, e fazê-lo triste por ser inútil até que ele pare em uma outra caixa, grande, vazia, e coletiva. A lata cinza, o lixo.
O boneco teme esse seu destino fatal, que do alto da prateleira viu acontecer tantas e tantas outras vezes com todos que cairam na tentação de deixarem-se soltar. Ele tentara, em vão, convencê-los a ficar. Tentara lhes vender a promessa fácil de vida eterna, sobre o mundo e longe dele, o véu que não deixa ser vista a princesa mas que lhe dá perfeita capacidade de ver tudo. Mas até onde ele enxergou?

E foi num dia como todos os outros (sim,já sabemos que algo mágico está por vir), que ele falou com ele, um de seus antigos amigos de pedestal, que ele vislumbrou de longe, lá embaixo, brilhando na lata reluzente. Esse, surpreendentemente, tinha o rosto intacto e não perdera outra coisa senão as asas. Bastou isso para lhe conferir a inutilidade perpétua. Ninguém sequer chorara por aquele brinquedo, não foi uma criança triste que lhe deu o ultimo adeus, desejando, tão inutilmente quanto, que nada de errado tivesse acontecido. Lá ele fora depositado pelas mãos frias do adulto que o encontrara na poeira detrás da cama. E olhando para ele, o alto solitário lhe perguntou, se ele se conformara com aquele fim e mais precisamente, o que realmente o perturbava naquele momento. Porque sorria?!
E assim como a mulher que na iminência do próximo tchau ser um ultimo adeus, não deixou entrar em sua casa palpitante o temível e horroroso filhote de "e se.." e beijou com a alma, ainda que muito rapidamente, esse ex-voador lhe disse, que o preço do pedestal era alto, tão alto quando a vastidão com que sentira suas asas tomando o mundo quando viveu do outro lado, do lado dos outros, que só por isso poderia também ter sido chamado de seu. E o encaixotado ouviu cada fonema e mastigou aquela vida alheia, que desejava, que temia, que finalmente queria mais do que a glória, mais do que os instantâneos olhares de admiração que inspirava, e com os quais se contagiava e sentia-se amado, mas que logo o deixavam porque era inalcançável.
E ele quis estar no nível dos olhos dos outros. Quis ser visto de perto e sentido como sabia que devia ser, como sabia que a vida dentro daquela caixa poderia o tornar. Quis pular, porque agora não temia tanto a queda como ansiava pelo frio na barriga, pelo sorriso de surpresa de algo novo e alimentante em sua alma nova.

Só, que com o derradeiro suspiro de seu amigo sem asas, que transformara em umas poucas palavras sua piedade em inveja de vontade de ser que nem, ele realizou que não sabia mais quanto tempo duraria para que novos olhos quisessem captar nele a vontade de finalmente se soltar, e desejou esses olhos mais que tudo, mais que nunca, tentando manter acesa em si mesmo a chama de vida que finalmente uma faísca de pouca credibilidade como qualquer antecessora conseguira, Graças à Deus, suscitar.

sábado, junho 12

ALTO LÁ! uma oração

vou fingir que não é minha culpa o sumiço das coisas que estão saindo daqui agora.

não, não vou não.



Sim, já faz tempo. mas quanto tempo pode ser considerado um bom tempo pra nos fazer enferrujar e ter que se esforçar um pouco mais pra sair do lugar do que da primeira vez?

Talvez não seja nem pelo muito tempo que se passou, que pra mim, ou melhor, pra voces pedaços, acho que foi muito tempo sim, mas por causa da decisão (consciente?quem sabe) de guardar pra mim, de escrever num livro que se fecha e esconde ao invés de pintar em letras garrafais, coloridas e suas o mural do mundo e da vida de qualquer transeunte.

Provavelmente foi o tentar tornar minha uma coisa que não é, a falta de lembrar das palavras de gentileza exposta nas ruas da cidade por que passamos, todos nós e eles também, tão apressados, sem nos dar conta de que merecemos aquelas palavras. Pior do que duvidar de que somos o destinatário das mensagens de amor da vida, é não enviá-las quando é você o encarregado de escrevê-las ou dizê-las, a quem bem se sabe que merece. Todos. Tudo.

Não é a única nem a mais eficiente eu imagino, mas essa é a minha mais importante maneira de tentar esse tudo que tanto se quer alcançar e eu a deixei,

pela falta de tempo.



Mentira mais cheia de espinhos não poderia existir.



Como pode-se ter algum dia acusado o tempo de faltar se é ele, e somente ele, justamente a coisa que mais existe e que nunca para de se renovar, de se reinventar, de existir mais uma vez no mundo? Não nos falta tempo, nos falta coragem e disposição.

Não é a coisa mais simples e livre de impactos pessoais que existe, se abrir e se atirar ao mundo, se deixar transmitir por aí, se espalhar nos canteiros da vida por onde passamos e onde faltam as flores que procuramos sem entender que talvez sejam nós mesmos. A nossa ausência não apenas tira a cor dos jardins por aí, mas também nos impede de crescer com o estímulo de toda a natureza ao nosso redor.

É muito mais maravilhoso do que angustiante, esse negócio de ser dar ao mundo. E ainda assim tantas chances são perdidas por aí...
Espero apenas e ainda que possamos encontra-las, e fazê-las nascer dentro de nós. Amém.

quinta-feira, junho 3

e de repente, ainda assim tão logo, percebeu-se que não era ele.
Vi que o amor vinha de mim mesma, irradiando-se em todas as direções, forte lindo e novo a cada respiração ofegante que resulta de seu contato direto com algum corpo ou energia que o faça esquentar.
E num instante apaga-se a velha ideia, compreende-se e assim mata-se a velha crença. A de que era dele que, como de um ser naturalmente de existência excepcional, fluia naturalmente algo que eu como um transformador recebia e o que era a única matéria-prima possível do único produto relevante que meu tambor peitoral aprendeu a produzir, o amor.
Ele simplesmente precisaria existir, e de lá eu sugaria mesmo à distância o néctar da mais fina flor, improvável e impossível e ainda assim mais presente do que qualquer outra substância na lista dos ingredientes que a receita da felicidade exige que sejam comprados, ou melhor, conquistados.
E ele existia independentemente dessa receita, ele provavelmente, ele quase que certamente nem duvidava da existência da receita, e apenas desfilava sua magnificência por aí, espalhando a matéria-´rima gratuita pra qualquer candidata ao vício do amor que ele causava. Será mesmo?
Será que não era ele, esse sim, o grande alvo? que sendo carregado pelo vento de abelha em abelha, de solo em solo, produzindo depois de árduos dia de sol que queima como o arrepio e de chuva, e de chuva, salgadas lágrimas que deixou escorrer por suas flores, descuidado desculpando-se com a intenção de que se fortalecesse; as mais belas componentes de um jardim maravilhoso de mulheres novas e vivas, que seguiram seus rumos, que trilharam seus caminhos, que desfincaram as raízes de sua terra e buscaram por si próprias solos mais férteis onde pudessem ser singulares, especiais, interessantes? E onde fica essa velha semente, já tão gasta pela mania de ser pólen e se deixar carregar? Onde se esconde sua magnificência agora que já nenhum girassol o persegue?

Não existe.
Nunca existiu.
E hoje a rosa, grande e bela como ele a fez, como ele não a quis para si, mas causou que se tornasse para o mundo, o vê pequeno.
Vê a semente não como o motivo de sua existência, mas como o seu passado, ressequida, morta, desvirtuada depois de dar flores e flores cujo nome nem mesmo se recorda.
Ela, a rosa, se lembra de quantos de seus espinhos arrancou, de como se poliu para não ferir o magnífico e grandioso pólen que tanto venerava, e como agora daria tudo para ter de volta sua selvageria. Mas ela também já não é mais o mesmo botão que antes não sabia o que querer.

Se a rosa foi então capaz de enxergar de onde não vinha tudo aquilo de físico e imaterial que exalava, certamente ele se dava dicas inconscientes de de onde tudo VINHA;
e era dela.
era dos vasos de seiva que as lágrimas de orvalho molharam, encheram, fizeram secar, e dos lugares onde a ameaça de ser cortada e morte tornou seus amortalhados nervos praticamente humanos, que se expandia tudo aquilo que num poema qualquer decidira-se chamar amor.
O amor era dela, e no entanto só poderia existir e ser computado e materializado uma vez que não mais a pertencesse e ela o tivesse entregue a outrém, que por sua vez o receberia em tantas formas e tamanhos quanto lhe fosse possível compreender.
Porque o seu duro despontar fez da rosa flor mais forte do que se supõe,
e se ela for capaz de garantir a si mesma,então o amor que ELA tem para o mundo e também para o pólen, por mais que agora de uma outra dimensão e momento, não mais deslumbravél, mas aceitável, se espalhe por aí, e caia sobre nós

"Derrame o dom sobre nós
abençoe a nossa voz;
céu mudou, tá chovendo amor
Gotas de amor.
Deixa que o amor caia sobre nós
Deixa que o amor caia sobre nós !"