terça-feira, abril 19

Que sorriso,

Poder ver espelhado num outro rosto o gosto bom de achar isso tudo suficiente.
As asas são grandes e lançam a divina purpurina pelos céus,
Enfeitam sorrisos inúmeros. Esquentam corações. Fazem-nos sorrir em nosso humilde trabalho de cegonha crescida, reconhecemo-lo e por isso somos gratos,
Mas elas pesam.
Ah, sim senhor, quilos e quilos de plumas. E a manutenção?
Cada pouso forçado, dos que eu tanto gosto e quero praticamente quase sempre, tinge as plumas superficiais, e vem aquele negro se aproximando, envermelhecendo-me os olhos, desfocando tudo. São impermeáveis, nossas asas.
E eu pergunto: para quem?
Isso é também uma das principais pautas em nossas reuniões semanais, onde consensuamos uma das nossas angústias Top5, chutando baixo: penamos pra nos encharcarmos dessas almas que abraçamos tão e tanto. Sim, sim, porque aquela essência toda não cabe em nossa imaculidade, e a desejamos.
À noite, nas redes que construo mentalmente, vêm me visitar essas criaturas, sedentas de despejar em mim o que não lhes cabe garganta abaixo,
e eu aqui preciso acabar admitindo que não deixo porque não sei como.
Não
Sei
Como.
Depois as deixo, vagando pelos cantos sem se ver em alguém. E me olham de baixo, por que sempre assim?
Nessa carta lhe peço encarecidamente que me deixe refleti-las,
Sim, quero ter em mim penas rasgadas e um buraco, do tamanho muito maior que meu peito só, onde caiba cada um e todos esses espelhos d’água, e só.
Que quando eles sentirem o bafo quente de minhas rosas penas se aproximando, possam se abraçar independentes.
Que isso lhes traga todo o conforto que não acharão no sofá novo, já que este estará recheado de corações velhos, que os molharam de carro com a água da chuva.
Tudo que queremos, eu e eles, e nós juntos quando somos a mesma pessoa, é passar por aquele trechinho de calçada.
Porque está escuro e não conhecemos. Nada.

Então finalmente e pra começar, quando olho para o lado e me surpreendem presenças, obrigada.
Obrigada mesmo que sempre fui a me sentir pertencente. E isso é bom, (ufa), poder de vez em quando fingir que as asas são nada mais que de carnaval, e ter um colo quente onde repousá-las, sem que elas se quebrem de cristal.
Se caírem, lindas mãos de trabalho humano ou não me ajudarão a recolher esses cacos brilhantes, me mostrando em cada minúsculo prisma quantas cores perdíamos admirando as asas chatas, transparentes e só.
Então agora mais e de novo, eu convoco essas mãos e digo que sigam sim, aqui comigo talvez. Mas o céu é grande e cabe sempre, nessa máquina de encaixar. Encaixaremos pelos ventos tudo o que consegui[r]mos abraçar, meus amigos anjos; lembrem-se de que elas nos querem tanto quanto as queremos, essas gotas milagrosas que nos livram da seca das asas perfeitas, tão amargas ao mesmo tempo.
E aí sim o vôo começa, porque tinha que.

quinta-feira, abril 14

Oh darling,

you're so punchritudinous while waking up in the morning,
and we've missed the scrambled eggs only.

terça-feira, abril 5

Elis Regina

Agora, o braco nao e mais o braco erguido num grito de gol.
Agora o braco e uma linha, um traco, um rastro espelhado e brilhante
E todas as figuras sao assim, desenhos de luz, agrupamentos de pontos, de particulas;
Um quadro de impulsos, um processamento de sinais.
E assim, dizem, recontam a vida.

Agora retiram de mim a cobertura de carne, escorrem todo o sangue,
Afinam os ossos em fios luminosos,
E ai estou.
Pelo salao;
pelas casas, pelas cidades,
parecida comigo.

Um rascunho.

Uma forma nebulosa feita de luz e sombra,
como uma estrela.
Agora eu sou uma estrela


E depois ela vem e lanca a seguinte:
http://www.youtube.com/watch?v=-Gl4n5eYzW4

isto e,
amor.