domingo, março 29

destando-nós

Quando você olha para um nó pela primeira vez, e segura e o sente pela primeira vez, dá pra pensar que ele é uma bolinha, uma unidade mesmo, inteira e indivisível. Um macroátomo e dá aquela vontade de desistir e passar de volta pra quem te pediu pra desfazê-lo, ou pro esquecimento que estava impedindo sua memória de tentar solucionar essa inncógnita amontoada.
Mas ela não se dissolve, a não ser que seja naqueles colares bem fininhos e de oouro quando você vai girando devagar com os dois dedos, e não tem coisa mais simples. E faltam colarezinhos simplezinhos fininhos e principalmente de ouro, pra que seja tão corriqueiro desfazê-los quanto criá-los.
E pouco a pouco nossos nós vão se amontoando numa pilha dentro do armario que realmente pesa bastante pra ser aberto, e a vida vai passando. Mas volta e meia alguma coisa chata e um pouco mais fluida acaba escapando pelo vão dessa porta e traz um cheirinho ou um fiapinho de algum nó, de algum dos grandes, de alguns dos boladeneve-nós. E geralmente eles abrem a porta com tudo e derrubam tudo que tem lá dentro em cima de você - aí me vem aquela velha imagem de uma cabecinha de criança confusa sobrando por cima de um montinhoÃO de coisas, mas as coisas são nós, mas os nós são coisas.
Essa é a hora de aprender a desfazê-los. Ou como diria um Pessoa extremamente mais qualificado, essa é a hora da travessia.
“Há um tempo em que é preciso abandonar as roupas usadas
que já têm a forma do nosso corpo
e esquecer os nossos caminhos que nos levam sempre aos mesmos lugares.
É o tempo da travessia…
e se não ousarmos fazê-la, teremos ficado,
para sempre, à margem de nós mesmos.”
Porque desfazer nós é um processo, que começa por te jogar todos eles como eles estão, embaraçados, confusos, envopltos numa névoa preta que quase te cega pro que realmente é o fogo que a causa. Muitas vezes a gente pensa que cortar um nó resolve, ou escondê-lo, ou trocá-lo por outros nós, mas a verdade é que o armário os recolhe involuntariamente, e mais cedo ou mais tarde acaba voltando tud, mesmo.
Quer dizer, tantas palavras que ouvimos ou pensamos ter ouvido ou inventamos sobre como desfazê-los, e na verdade quem não sabe que não tem outra forma senão tentando e descobrindo seu exclusivo caminho? E sozinho?
Bom, eu só sei que a cada queda da montanha de nós, costuma cair um pouco de poeira junto com eles, costuma baixar um pouco de fumaça, e quem resolver que está na hora de limpar tudo, achar o fogo, apagá-lo e sentar pra aprender ou ser ensinado sobre como se desfaz nós, parabéns. Então finalmente aprendemos a sentir o que vivíamos pensando que precisava ser entendido.'

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