quarta-feira, junho 23

Um resto

e agora é tudo feito de adeus.
sobram pedaços de pétalas pisoteadas e cuspidas, arrancadas e lançadas pelo chão da sala.
sobra meu ventre natimorto em que o amor foi cuspido na primeira suspeita de trapaça,
que se viu mais só do que já era antes, assim que não foi mais capaz de enganar-te.

a infertilidade das palavras doces e dos gestos débeis com que você me contaminou,
a vontade de não me ser, mas a ser, ser o lindo ser que é a brisa suave que faz seu catavento querer ser soprado para seus lados, ser os raios que o seu girassol segue involuntaria e apaixonadamente.
a raiva do que existiu e da concessão muda que se fez com cada sorriso, de que o meu corpo te pertenceria o quanto entendesses e as correntes seladas entre nossas almas, eram eternas e só suas.

saber que as palavras fortes nunca terão a violência e a fome do peito carcomido pelas lembranças nauseantes, embalsamadas e amortalhadas num falso e frágil pacote podre de amor.
esse peito que grita em seu silêncio que mil mundos não conseguiriam decifrar.
esse peito que nem peito mais sabe se é ou não.

esse peito que viu seu calor de primavera passar, e quieto, sobrou na multidão.

Nenhum comentário: