quarta-feira, junho 23

num aquário

não faz mal se tiver um pouco de amor demais.
ou um pouco de dor demais, de gritos e choros e espancares o ar inocente, enfurecida.
não faz mal a ferida aberta e o sal que viver e suas lágrimas derramam sobre ela.

se o mendigo é capaz de sorrir enquanto torna-se parte da paisagem, não faz mal.
se a flor pisoteada ainda encontra abrigo na terra e dela tira a força de cedro para continuar a nos deixar respirar, mal não há.
se em qualquer parte uma criança que seja ainda acredita, mal não tem.

tudo ficará bem, e as novas cores de ventos recém-nascidos tragarão o que de frio deixamos crescer dentro de nós,
e rolando como as ondas irão perder-se no fundo de algum aquário antigo , incapaz de prender qualquer atenção importante, as feridas, o amor, os inocentes, a flor e o mendigo e a criança.
e a vida.
anônima e despercebida pelos transeuntes.

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