domingo, junho 13

Polvo,o mar,o sol. Ainda quero os raios.

Quero ter(e isso significa dar, irradiar, ou o que seja. não, irradiar até que funciona muito bem pra essa intenção) eum amor que saia, que cresça e do centro vá a todas as outras partes, feixe de luz forte vivo e volátil, e rápido ou lento conforme as batidas dos corações que cruza pelo caminho inédito de ar que traça ao passar o quiserem e escolherem. Que seja azul, branco e luz, amarelo, laranja, rosa ou verde pra quem precisar, que saiba ser de todas as formas mas que fundamentalmente nunca se conforme com seu tamanho e queira sempre crescer e sair, me deixar porque não é e nunca foi meu, como um rio que não pertence a sua nascente mas tem seu destino já certo, sem o saber.
E não algum rabugento, cefalopódico tal qual as bengalas de um velho animal que exaurido pelas amarguras que acumula no saco de pedras que carrega, usa seus tentáculos para se prender a uma caverna, onde mora seguro e sugando das paredes de corais sua verdade. Não dá pra ser assim porque se fosse tudo isso que entra no polvo, que seria eu, iria inchá-lo mais do que sua cabeça pudesse suportar, e de nada adiantariam tantas pernas, que ele tem, que eu teria, se não fosse torná-las luz e torná-las públicas e de todos os seus vizinhos salgados; se fosse assim seria a cortina de fumaça lançada sobre os próprios olhos tão peculiares que perderiam aí, nesse exato momento, qualquer utilidade. Que o amor não esteja nunca preso à mim, que um corpo de polvo é muito pouco pro tamanho que ele quer e aspira a ter, que ele precisa ter, que ele possa viver grande e solto e em todas as direções. Que principalmente ele esteja nunca nunca nunca conectado à cabeça e sim que sirva de mestre e exemplo para que o resto de mim, acomodado na caverna, sinta enfim desejo genuíno de sair.

Porque se for pra ser assim parasitário e só meu, que não haja amor.
Que se seja então grão, ou vento, e levado pela rua, e observando. Pela rua que eu enxergo e penso que conheço e entendo, cujos limites habitam o mesmo plano da minha compreensão. Que esse se deixar conduzir sirva então de treino para o grande mar. O grande e Posseidoso, nos levando por onde quer, e que ainda que não exista amor nos espalha por praias e corpos e sóis que ninguém viu porque a cada dia amanhecem novos, outros, refeitos pela maravilha do horizonte que tão suavemente os acaricia sempre. Lá eu não sou nada e nem consigo pensar em tentar ser, lá não há aprendizado mas apenas permissão, permissão para ser tomado e descobrir aonde a vontade de qualquer tormenta bem entender que quer nos levar. Lá não se vê fim, não se tem fim, mas apenas outras praias, desconhecidas e sempre povoada; se não por quem nos possa fazer sentir e ser polvo ou tronco de luz ou qualquer coisa que exista realmente e que alcance algo, pelo menos eu sei que lá existem grãos. Tão pequenos e frágeis e curiosamente com vontade de viver e de se tornarem o que talvez já sejam em algum lugar de sua miudeza quanto nós.
E prefiro uma onda que me leve com ou para quaisquer grãos do que a parasitariedade da caverna escura , me sugando, me sugando e acabando comigo, porque os raios querem sair e chegar, querem pelo menos receber luz, preferem ser lagarto estirado ao sol. Que haja por favor algum Sol.
E assim nos deixamos ir e levar,

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