terça-feira, julho 6

E rolam as pipocas

Quanto da "magia do acaso" faz parte desse monte escuro e ofuscante de tão claro que se alterna na formação de tudo o que dá beleza e fluidez à vida?
Será que isso algum dia já passou de uma invenção nossa pra justificar coisas cujas conexões nos incomodariam demais? O que isso quis dizer pra mim foi, será que tudo tem um motivo?

Por vezes prefere-se pensar que sim, que tudo está entrelaçado e seguimos, carneiros calmos e pacificamente obedientes, o caminho do rebanho que o tal algo maior (quiçá Deus) guia em direção a alguma cerca onde nossos dias de procura e frustrações não mais possam se materializar.
Mas será mesmo?
A verdade é que não sei.

Não sei como eu sentiria esse pedaço de mal estar de garganta e gripe quentes e de repente tão sensíveis e exigentes, de descanso, de lencinhos de papel, de sono, de sono, de sono, se fosse tudo semana que vem ou semana passada.
Nem mesmo posso dizer com alguma sombra de certeza se eles teriam direito ou capacidade de existir e de se fazerem vivos em mim em algum outro momento que não esse.

Provavelmente todas essas palavras, acaso, destino, caminho, certo e errado, foram criadas e fincaram raízes em alguma parte de cada um de nós por falta de como
falta de como justificar que estamos à deriva, por não saber ou por simplesmente não existir, correnteza alguma nesse gigantesco oceano bravio pintado no auto-retrato da vida.
E então a gente vai rolando e sendo navegado, sem achar a precisão de qualquer bússola, sem saber se se pode ou não confiar na previsão de qualquer oráculo ou bola de cristal.

Se a pré-condição para que as coisas aconteçam reside no eu, no aqui, no agora ou no quem é o próximo, confesso e admito que me revira o estômago e o coração admitir que não sei;
e ainda assim, sem que eu saiba, elas acontecem
E me fazem imaginar e criar histórias, e criar vidas, e criar coisas debaixo dos meus cabelos que talvez nunca existirão.
Mas lá, na segurança dos caracóis de Carolina, todas elas cabem e sobrevivem, e convivem numa magia linda que brilha e canta alto suas vitórias, de poder existir por onde eu vá e de apesar de tudo, ser um segredo só meu, impenetrável, indecifrável, que não vive para ser descrito ou adivinhável, e que pra se disfarçar, pode se tornar outras mil coisas sem estar errado ou quebrar regras. Lá toda essa vida só vive porque não tem regras.
E o importante acho que é isso,
lá, aqui,
dentro,
por dentro,
de mim
(e talvez de tudo, quem sabe)
o acaso vive.

E isso porque quando eu abri o meu casaco, antes de por o pijama, súbita e totalmente inesperadas, caíram duas ou três pipocas de cuja existência ali eu nem mesmo suspeitava, filhas de um momento já morto há algumas horas num cinema por aí.

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