quinta-feira, julho 8

Ontem, na verdade

bateu essa vontade de ser menos.

menos eu, menos o que querem que eu seja, menos do que eu quero tanto ser.
menos viva, menos morrendo mais a cada respirar, menos intoxicada ao respirar sujeira material e espiritual do mundo que me cerca, menos nesse movimento incessante em lugar nenhum.
menos perdida.
menos diferente de tudo que eu entendo e sei definir, menos eu.
menos do que dizem e eu penso que me consideram ser, menos do que os outros que eu quero poder admirar e não consigo mais, não dá, menos eu.
menos do que eu serei amanhã e também menos do que eu fui ontem. menos do que eu estou me tornando e até mesmo menos do que eu sou nesse exato momento.
menos do que o instante de consciência em que se percebe ter algum valor, e então poderia ser livre novamente, como quando era menos, menos eu.

E com certeza tanta súbita e curta vontade faz parte de um desejo de voltar, e de não me sentir eu ou mesmo de não me sentir nada,
para que se possa querer de novo ser mais, e esparramar por aí as gigantescas asas,
e voltar a crescer.

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