quarta-feira, julho 7

Pra que nos deixemos ser mais

Já vou logo avisando de prólogo, que esse daqui talvez seja bem pouco, senão in,compreensível.

*

Uma coisa que muito me incomoda e pode-se até dizer que me irrita bastante, é o eu não saber o limite da superficialidade.
Quer dizer, e quando as luzes se acenderam antes do que se esperava, e se por dentro já fosse tudo claro e então ficasse mais claro ainda, nessa hora alguma força bruta e maior nos impede de chamar aquilo que queima de sentimento?
Sei sim, e penso ser necessário a muitos de nós, reconhecer a escuridão dos lugares aonde se vai e pelos quais vive-se a vida; mesmo assim não quero deixar de viver e acreditar naquilo que uma voz singela e tímida, que podemos fazer facilmente passar despercebida, nos murmura no semi-vazio calabouço das ideias....
...é de verdade...
e como poderia não ser de verdade tudo aquilo que faz, nem que seja por apenas um segundo, palpitar apressado um coração?
e no entanto ouço e percebo que não pode ser, que não deve ser, que não deixam nem deixamos ser...
É essa linha tortuosa que pensamos tênue, e se revela dura e afiada como o arame mais farpado ao menor toque, à menor pressão, ao mais efêmero lampejo de desejo de mudar de lado por um instante. Onde acabam-se as condições de continuar sendo assim, simplesmente tão.. superficial.
e mentiroso.

Sim,sim.
Mente-se a si mesmo nesses becos escuros, nesses cômodos barulhentos em que os murmúrios dos anjos bons e de nosso próprio lado puro vêem-se desesperadamente inaudíveis. E exasperam-se na tentativa de se fazerem ouvidos, na tentativa de que um tropeço pisada no pé bronca ou empurrão nos façam ver que, lá, nada enxergamos de verdade.
Mas não queremos ouvir os sermões chatos que eles nos passam. Não, a música vale mais a pena no momento. O momento, o momento.. quanto deixamos para trás pelo mero e (in/f)útil prazer do momento.. me intriga incomoda e irrita não ter a mínima noção de se algum tanto desse quanto é recuperável, de se podemos ou não ter de volta aquela pureza e aquelas vozes; e se sentimento algum dia viverá em quem não soube ouvi-lo ou cedeu às pressões do mundo de não aceitá-lo, ou simplesmente não o fez porque realmente a distância é mais confortável.

Alguma parte do que tinha aqui dentro pra crescer e sair e arranhar o mundo já se foi.
E a forma que tudo isso tomou do lado de fora não era a que eu queria, por mais que assim se pensasse, nas horas de rebentação. Por mais que se conformasse em se ser o que é, em estar aonde se está, em conviver com quem conhecemos e aceitá-los, assim mesmo..
Não se trata de compreender o outro nem de acompanhar quem precisa de nós, algo que faz parte da caminhada de quem não quer caminhar sozinho e eu tomarei enquanto puder como meu compromisso e com prazer;
mas de quanto deixamos de lado de nossas próprias crenças e motivações e talvez até princípios, nesse caminho, é o que me incomoda e me irrita tanto.
Porque realmente não vem de mim e eu sei que não é pra mim toda essa bagunça. Quer dizer, tem que haver outras formas de extravasar a energia da alma pro mundo de algum jeito que ela só seja BOA. e linda;
E que não incomodem e que não nos obriguem a enxugar as lágrimas quando olharmos para trás.
E que não nos obriguem a andar com pressa, a falar rápido, a esquecer, a se conformar com o mundo que sufoca nosso peito apressado e nos manda pensar que é tudo assim mesmo.
E que nos permitam não ter as experiência e os dissabores da idade do nosso corpo mas viver aquilo que sentimos com o tamanho que tiver do lado de dentro.
E que nos deixem estar onde isso tudo possa emanar e se propagar tanto quanto queremos e sabemos que sabemos fazer e talvez até bem.
E que nos mostrem onde não precisamos de capas de normalidade nem de convenções sociais que nos cortem os pedaços e nos deixem com os restos de quem somos, aos poucos, migalhas de nós, pra poder sorrir e permanecer.
E que nos desamarrem enfim de todas essas apreensões intrigantes e irritantes e todos esses medos inúteis que sentimos de nos deixar voar. Para que enfim partamos rumo a onde o pulsar do amor e do sangue nos impulsionarem e aos lugares onde sempre quisemos ser apenas o que temos por dentro, sem casca, sem cobertas, sem receios, só nós mesmos de cara pro mundo e nus de aperfeiçoamento. Apenas nossa própria essência exalando o que nenhum perfume pode imitar e não precisar de roupas de nenhuma natureza que nos protejam do julgo dos olhares assassinos porque lá eles não cabem. Só cabemos nós mesmos, e todo o amor que as noites escuras absorveram de nós, que vai voltar, e vai sair e ir, dessa vez apropriadamente destinado aos nomes que escrevermos no verso do envelope;
que pombas brancas solenemente carregarão, compreensivas e amáveis, aos quatro cantos do mundo.

Nenhum comentário: