Uma negrinha c e r t a vez me contou que a inspiração conta. E conta mesmo. E só porque é com ela que eu conto, então seguirei contando-a, e agora que esse espaço me permite. Ah, que vívida é essa vida vivida de permissões, missões, missões...
Então
vamos ao tema, que é tão raro em minha pequena grande cabecinha caber um tema
assim inteiro, assim solidamente construído pelos fios mágicos da vida
energética que estou começando a achar que consigo levar. É boa.
Alguém me ajudará nessa tarefa, veja:
O
que acontece é que não adianta acender uma vela se não houver lenha querendo
ser queimada. É solitário ser fogo que queima no altar da montanha, visível
apenas para a natureza que de companhia nenhuma precisa mais. É pouco estar só
pra quem se basta, e não poder doar-me me tira a vida que eu tenho em mim
apesar de ainda não entender.
Escancarando a verdade, agora direi
o que ouvi lendo uma tela tão falante quanto essa em que vejo materializando-se
as invenções daquela mesma cabecinha teimosa que ainda não quis ir dormir,
mesmo com os cutucões que me dá o despertador já acertado para quase daqui a
pouco. Ouvi de um sorriso sincero por aí que sou encantadora. E quero e quero
perder a vergonha, não permitirei aos dedos finos apagarem essa confissão vaidosa.
Que esse medo rude de usar salto não me deixe calar a vida, a verdade, qualquer
fragmento microscopicamente mágico dessa coisa quiçá indefinível. Agora que
escrevi já não posso desescrever, e essa é uma das apostas tolas com que me
deixo iludir e engano ao mesmo tempo, roubando os doces de minha criança,
mantendo-me ‘viva’.
E
assim agora depois de sorrir de volta volto a pensar no encanto, volto a
senti-lo, começo então a - como agora ainda bem que quase sempre – me despir
dessa adjetivação que já ou ainda, sim sinto, sinto assim, tão epidêmica.
Coisas dessas são daquelas que não se dá pra ser, que só se
é quando se dá, nas quais só da pra se doar. E vai doer, mas isso é bem. O encanto, essa coisa leve que se sente
em casa sorriso compreendido de amor penetrante, em cada mandinga calada com
que enchem nossas botas de lama invisível todos os dias em que não me limpo
direito antes de me deixar sair de casa. Sair dessa casa a que uns malucos
assim resolveram apelidar corpo.
Não, não posso deixar essa vontade de querer ser encanto
tomar conta de mim, porque ela é capaz de matar, é capaz de matar o amor de
criança que venho redescobrindo (salve, Elis querida, loguinho nos encontramos
por aqui) a pauladas, essa vontade vaidosa sempre munida de seu companheiro de
três letras. Suma, Seu Ego! Já te disse que nossa história está é muito bem
terminada.
Não se sabe o que a motiva, a essa velha conhecida. Só sei
que quero e quero sempre que ela não morra, que voe seu próprio voo negro, que
me chame somente quando precisar.
Quando
precisar. E eu estarei lá. Estarei mas sem que me vejas, pois já se entende que
respiro mais que nunca o ar encharcado da baleia jubarte. A baleia qualquer
coisa que me leva, que levemente me leve, no instante que acaba de passar.
Preciso de seus cabelo de mentira envolvendo minhas mãos pequenas, preciso
montar seu corpo imenso e saber que ali vivemos juntas, pelo longo segundo efêmero
em que contornamos os oceanos todos; preciso sentir nas ondas do mar o pulsar
de nossos corações, tão desesperados e arritmadamente sincrônicos a não mais
poder. Anima-te, bicho de leite. Deleite-me.
Aprontei-me.
Ó meu
avozinho querido! Agora vendo a foto lembrei que estás aqui. Que bom saber que
estamos sempre todos juntos. Quanta a vida que cabe nas águas de um olhar
profundo de menina. Da menina. Da que precisa de nossa água, regador de
elefante que você me ensinou. Carrego sempre no peito esse dente incisivo e belo,
digno de qualquer bom pedestal áureo, e com ele vou matar o que preciso for e
depois coroarei a quem merecer. E te dando as mãos ao lado, sorriremos.
Segue
o barco.
Fico eu, e o que sou, que em mim é que não está. Não tenha medo desse vidro azul em meu olhar, também ele é feito de amor.Muito prazer.
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