terça-feira, setembro 20

Sobre o encanto.


Uma negrinha c e r t a vez me contou que a inspiração conta. E conta mesmo. E só porque é com ela que eu conto, então seguirei contando-a, e agora que esse espaço me permite. Ah, que vívida é essa vida vivida de permissões, missões, missões...


Então vamos ao tema, que é tão raro em minha pequena grande cabecinha caber um tema assim inteiro, assim solidamente construído pelos fios mágicos da vida energética que estou começando a achar que consigo levar. É boa.

Alguém me ajudará nessa tarefa, veja:


O que acontece é que não adianta acender uma vela se não houver lenha querendo ser queimada. É solitário ser fogo que queima no altar da montanha, visível apenas para a natureza que de companhia nenhuma precisa mais. É pouco estar só pra quem se basta, e não poder doar-me me tira a vida que eu tenho em mim apesar de ainda não entender.
            Escancarando a verdade, agora direi o que ouvi lendo uma tela tão falante quanto essa em que vejo materializando-se as invenções daquela mesma cabecinha teimosa que ainda não quis ir dormir, mesmo com os cutucões que me dá o despertador já acertado para quase daqui a pouco. Ouvi de um sorriso sincero por aí que sou encantadora. E quero e quero perder a vergonha, não permitirei aos dedos finos apagarem essa confissão vaidosa. Que esse medo rude de usar salto não me deixe calar a vida, a verdade, qualquer fragmento microscopicamente mágico dessa coisa quiçá indefinível. Agora que escrevi já não posso desescrever, e essa é uma das apostas tolas com que me deixo iludir e engano ao mesmo tempo, roubando os doces de minha criança, mantendo-me ‘viva’.

E assim agora depois de sorrir de volta volto a pensar no encanto, volto a senti-lo, começo então a - como agora ainda bem que quase sempre – me despir dessa adjetivação que já ou ainda, sim sinto, sinto assim, tão epidêmica.
Coisas dessas são daquelas que não se dá pra ser, que só se é quando se dá, nas quais só da pra se doar. E vai doer, mas isso é bem. O encanto, essa coisa leve que se sente em casa sorriso compreendido de amor penetrante, em cada mandinga calada com que enchem nossas botas de lama invisível todos os dias em que não me limpo direito antes de me deixar sair de casa. Sair dessa casa a que uns malucos assim resolveram apelidar corpo.
Não, não posso deixar essa vontade de querer ser encanto tomar conta de mim, porque ela é capaz de matar, é capaz de matar o amor de criança que venho redescobrindo (salve, Elis querida, loguinho nos encontramos por aqui) a pauladas, essa vontade vaidosa sempre munida de seu companheiro de três letras. Suma, Seu Ego! Já te disse que nossa história está é muito bem terminada.
Não se sabe o que a motiva, a essa velha conhecida. Só sei que quero e quero sempre que ela não morra, que voe seu próprio voo negro, que me chame somente quando precisar.

Quando precisar. E eu estarei lá. Estarei mas sem que me vejas, pois já se entende que respiro mais que nunca o ar encharcado da baleia jubarte. A baleia qualquer coisa que me leva, que levemente me leve, no instante que acaba de passar. Preciso de seus cabelo de mentira envolvendo minhas mãos pequenas, preciso montar seu corpo imenso e saber que ali vivemos juntas, pelo longo segundo efêmero em que contornamos os oceanos todos; preciso sentir nas ondas do mar o pulsar de nossos corações, tão desesperados e arritmadamente sincrônicos a não mais poder. Anima-te, bicho de leite. Deleite-me.
Aprontei-me.

Ó meu avozinho querido! Agora vendo a foto lembrei que estás aqui. Que bom saber que estamos sempre todos juntos. Quanta a vida que cabe nas águas de um olhar profundo de menina. Da menina. Da que precisa de nossa água, regador de elefante que você me ensinou. Carrego sempre no peito esse dente incisivo e belo, digno de qualquer bom pedestal áureo, e com ele vou matar o que preciso for e depois coroarei a quem merecer. E te dando as mãos ao lado, sorriremos.
Segue o barco.
Fico eu, e o que sou, que em mim é que não está. Não tenha medo desse vidro azul em meu olhar, também ele é feito de amor.
Muito prazer.


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