terça-feira, dezembro 7

Ceifando

depois que eu vi. quando eu o vi, assim, daquele jeito,
tive
de arrastar minhas implacáveis asas,
com as pontas rasgadas, quebradas e pobres, pelo chão que exala terra molhada.
E indo em direção ao coração morno que o peito cobria, desajeitado,
percebi que não dava pra senti-lo bater.
Nem mesmo de muito perto. Perguntei-me o que seria a criatura ali dentro. Quis chamá-la fria,
mas tinha mais vida do que isso. Então deixei
e como era meu dever, e disso todos sempre souberam, cravei as garras naquele frágil
peito
de onde tirei o ensanguentado quebradiço. Como batia,
que proeza. quis pra mim um igual. Eu saberia esquentá-lo, ou pelo menos assim pensava.

respingando o verde que brotou de mim praquilo que eu não sabia ter,
costurei nesse coração um pedaço de minhas assas, que guardei da época quando elas ainda eram boas.
quando alguma coisa ainda fazia valer todo o funcionamento, todo o organismo perfeito que eu era,
e a isso chamou-se bondade.
tapei de novo a nesga que teimava em entrar no poço fundo das minhas memórias, e terminei o trabalho.
senti alfaiate, senti fada madrinha, e deixei o vento cuidar da Cinderela roubada,
sonhei que ele encarregava-se de lhe por numa boa casa, com cobertor e lareira e chocolate quente no inverno.
Não sei o que lhe aconteceu.

Virei as costas para o corpo, que Agora sim era frio. E por minha causa.
Mas não posso evitar,
e como é para isso que sirvo, rumei ao próximo serviço da noite.

Um comentário:

Anônimo disse...

hum...me pergunto pq vc não aprticipou do concurso de poesias do arqui!esse texto esta muito bom!!

PV