segunda-feira, dezembro 27

fraquezas

Hoje, vindo embora, lembrei-me de, mais, uma coisa que pensei.
Que preparei, quase pronta,
na ponta da língua.
E que depois, nova(e tão previsível)mente deixei a vida
me impedir de por no papel das vias de fato.

mas chega de dentro,
eis a ideia.

das minhas entranhas saem os ventos que carregam corpos com almas, e também outros desprovidos delas.
suavemente esmago-os contra o caos diário,
nos acidentes metálicos, nas hierarquias travestidas de arranha-céus, nas famílias que desabam sobre suas cabeças frágeis e vazias.
Esvazio-os.
Despejo todo o conteúdo que se possa chamar de humano no meu corpo, e quando chove em mim exalo o que se torna a terra deles, sem nenhum glamour, sem era uma vez. não se lembram de quando ou como eu era. eu simplesmente sou e sim, assim, os arrasto para dentro de mim.
Há muitas coisas que não absorvo, como esse soro de sentimento que deixo escorrer para dentro dos meus córregos pútridos, onde um dia já correu a água que me fazia viver.
Mas sei guardar muito bem, aqui mesmo do jeito que me convier, as chances, as esperanças. Encerro e quebro as escadas douradas. Meu céu é exclusividade.
deixei de acreditar no poder daquilo que algum dia alguns tolos plantaram na minha superfície. Sou alérgica a natureza.
Sou assim porque sou, na verdade, uma caixa. Guardo vaidades e interesses, e sobretudo o egoísmo majoritário. Covarde. Sei muito bem que é ele o meu médico,
e por isso devoro a quem se aproxima. Adentrar na caixa que sou é ao mesmo tempo revelar seu conteúdo de Medusa perante os olhos, e cuidado. Provavelmente você ainda não sabe escapar.
Precisam de mim. Pelo menos no verde e amarelo tenho certeza que é por isso que não rompem meus cadeados. Tolos.
Quisera eu me espalhar por aí e levar um pouco do meu negro ao verde e emprestar as minhas luzes às estrelas do campo. Seria muito mais poderosa se me ensinassem a encolher.
Por enquanto não sei. E não me dizem.
Então eu tento inutilmente deduzir essa fórmula incoerente. No caminho, vou varrendo algumas vidinhas pra baixo do tapete..
É o que custa. Gostaria de conseguir pedir ajuda. Prazer, me chamam cidade.

Um comentário:

Anônimo disse...

É isso aí... só quem vive na cataclismática megalópole sabe o que é isso...
Belo texto, Ana...

Beijo!
Luciano