segunda-feira, agosto 17

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É estranho o espaço apertado querendo deixar de existir de quando alguma coisa está se desfazendo, ou desmororando, e você lá no meio, temendo sua própria tentativa de sair.
Porque se tudo que cala fala mais alto ao coração, talvez também devesse alguém que se sente ou que se faz (ultimamente sentir e ser, intencionalmente ou não eu já não sei, têm se confundido consideravelmente pra mim), conseguir falar mais alto ao coração alheio, não tão alheio assim. Os que a gente sem querer talvez tenha querido algum dia deixar, ou deixar ir, mas sempre sobra uma vozinha gulosa querendo saber 'o que sobrou pra mim'.
Onde é que deixamos nossos pedaços cair?
Ou foi a cordinha que estourou?
E talvez eles nem tenham existido, nessa tentativa fugaz de mandar pra fora tudo que passe pela cabeça, talvez tenhamos recolhido pecinhas que não nos pertenciam, pra formarmos a máquina, que quando vemos bem, não funciona ou responde bem do jeito que a gente tinha filmado, sonhando.
Mas a certeza de que a contagem dos dias não estava errada, de que eles realmente se passaram, súbitos e sob o inclemente patrão, Seu Tempo, pede tímida que alguém a ouça. Essa certezinha de que tudo aconteceu mesmo, por mais surreal que pareçam todos os personagens aos quais pouco antes apelidávamos nós mesmos, eles pedem pra viver. Que seja na memória.
Só que a caixa é apertada demais pra eles também, e conforme abrimos uma nova, cheia daquele brilho mágico que tem tudo que ainda não temos; brilho efêmero que copia o aiiiinda cheio de água na boca. Eles espremem suas mãos e pés pela fresta que a lembrança de quem fomos, ou como, não deixou se fechar. Eles não estão sós, nem no escuro; e se anunciam mais fortes que nós.
Eu que não me atrevo a contradizê-los; eu só espero que os fiapos das vozes roucas que restaram em suas gargantas frágeis me lembre do que falta. Ou então me mostre que não falta nada. Ou então que se calem.
Na verdade, que façam como quiserem; apenas espero e quero mesmo que eu entenda os sinais contidos nessa nostalgia disfarçada, se é que eles existem, e a partir deles possa continuar a montar o castelinho de cartas sobre o qual a gente se equilibra, também conhecido como vida.

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