sábado, março 5

tombando/amos

que malvados ladrilhos.

a bota seguia e seguia, sempre obediente.
nada melhor que o conforto de ter um pe pra te levar sempre, e se nao, uma folgadagaveta cor-de-rosa exclusivamente sua, ja que botas grandes nao cabem em qualquer lugar.
tanta agua no chao, e pra que? ouvi dizerem que era mes de fazer calor, o que significa hibernacao.
e de repente me arrancam do meu sono sagrado e la vou eu,
mas o trabalho e bom, sou importante, sou bonita e marrom, e isso basta para o meu contento..
ou assim eu pensava
ate que todo o resto se escondeu quando um pequeno vazio depejou sobre mim tudo aquilo que nao podia estar guardado,
um ladrilho (eles estao por todo lado, porque no chao? por que na rua? por que naquele dia?)
nao o vi
.
o pe nao soube por onde me levar, mas eu tambem nao tentei avisa-lo. e nos perdemos, subimos, caimos
juntos e separando-nos para sempre.
foi quando vi que isso ja vinha tentando acontecer ha algum tempo..
e eu adiei. novidade.
por mais que seja sincero e bonito meu trabalho de servir,
e que eu possa jurar agora que sem isso ainda nao sei sorrir,
deixar-se ir da forma exagerada nao e ruim porque machuca o pe.
e ruim porque desintegra o sentido da existencia de nos dois. cospe na obra do incerto que nos levou ate aquela rua de ladrilhos. aquele trabalhoso incerto que trouxe o pe ate minha loja, que me fez tao bonita bota que fosse a preferida.
acordar antes do tempo me cansou, e confundindo birra com solucao eu nao escolhi o caminho.
eu nem vi que os ladrilhos brilhavam, cobertos pelo resto de garoa.
e caimos.
foi nosso fim, e na verdade nao ha a quem condenar.
pensando bem acho que o pe so estava crescendo,
e eu so estava louca pra vir aqui, nessa caixa quentinha e cheia de outras botas bem mais usadas e assim tambem mais interessantes, do que eu
ja tinha visto antes.

e agora eu ja duvido que eu precise tanto de um novo pe.

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