terça-feira, outubro 5

E eu

Querendo, numa esquina qualquer desses caminhos que a vida ou o "acaso" escolhem pra gente, topar com um anjo, um assim bem inesperado, que presenteie meu sorriso com uma asa que traz a tiracolo. Asa sua, primeira, estimada, roubada de um canteiro de secar asas num subúrbio da sua cidade, inestimável, cintilante, recem comprada, que transpire a cada bater a vasta experiência cravada nos detalhes-defeitos de suas penas tortas.
E pensando que ele silencioso apenas entregaria-me o divino presente, com toda a naturalidade que se imagina inerente a sua pureza angelical, e me dirá que a use bem. E que não pare de sorrir, como o par alado cujo trabalho não vai cessar nem quando a ultima pena cair. Nesse momento em sua mente ele me vera livre como a pomba que imaginou trazendo a paz de meus alvos dentes num ramalhete de esperança, eterna centelha que tudo preenche.
E, como venho querendo já há certos instantes, me dará sua mão e também o céu num beijo de despedida. Deixo o amigo momentâneo mas o carrego nas asas que eram com ele e que agora são em mim o eu que toca o mundo de cima, mundo leve e claro como num sonho, e no qual farei real qualquer desejo meu. E após ver bem tudo o que me apetece, e apreciar a beleza de muitas flores vivendo e murchando e voltando a ser Terra e famílias crescendo e outras se rasgando e corados cansados e secos, rejuvenescerem a trilha sonora tão conhecida de mais um capítulo no livro dos amores; tendo já as asas maiores que o céu que me carrega e o estômago farto de tanto devorar o banquete da vida num mundo onde pus meu coração e o fiz florescer, deixarei que ele mande em mim.
E me coloque mais uma vez no caminho de onde vim, mas no novo espaço que agora me pertence, do pleno descanso harmonioso do silencio do condomínio eterno, onde as asas brancas tentarão (quem sabe em vão) nascer em lírios, mas não eu, não.
Eu deitada verei que o que fiz foi bom, direi a meu anjo ate logo e outras palavras magicas de que o julgue merecedor, e me deixarei ate que enfim ser vento, e o tempo apenas ser.

Nenhum comentário: